13 may 2013

Reflexão de domingo: dia 12 de maio.


Por Rev. Ariel Montero

Primeira aproximação.
Ainda há sentido no compromisso com o ecumenismo? Vivemos num contexto religioso complexo, marcado fortemente pela autoafirmação de determinadas vertentes religiosas que acabam se tornando fundamentalistas.
            Por outro lado somos membros de uma tradição eclesial que se autocompreende como ecumênica. Ecumênica no sentido mais originário do termo: comprometida com a construção da “terra habitada” onde todos os cristãos possam viver e experimentar o sonho de Jesus Cristo de que todos sejam um (cf. Jo 17).
            Finalmente, entendo ecumenismo no sentido estrito: diálogo entre Igrejas cristãs somente. Considero um valor mantermos a expressão diálogo inter-religioso para as diferentes aproximações entre diversas matrizes religiosas. Este último conceito, bem sei, está em discussão.

Modelos de ecumenismo:
Costumeiramente se fala de quatro modelos de ecumenismo:
a)     Ecumenismo doutrinal. Nesse sentido, o diálogo e reflexão das Igrejas, particularmente o diálogo bilateral, têm construído documentos magníficos sobre diversos aspectos teológicos. Um exemplo no link.
b)   Ecumenismo institucional. Desde final do século XVIII e começo do século IXX diferentes denominações fomentam ações missionárias entre as Igrejas. Em 1908, anglicanos promoveram oito dias de oração pela unidade dos cristãos entre as festas litúrgicas da Cátedra de São Pedro e a Conversão de São Paulo. Em 1910 acontece a Conferência de Edimburgo (Escócia), considerado o grande marco do Ecumenismo mundial. O Conselho Mundial de Igrejas (WCC) foi fundado em 1948; a IEAB é membro pleno desta organização. Aqui no Brasil, em 1982, foi fundado o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), onde também a IEAB é membro pleno.
c)      Ecumenismo social. Refere-se a diferentes ações entre diversas Igrejas procurando a transformação de situações menos humanas as mais humanas. Neste sentido, cabe destacar a Campanha da Fraternidade Ecumênica que acontece de cinco em cinco anos promovida pelo CONIC. Esta iniciativa impulsiona a construção do Fundo Ecumênico para projetos sociais, sejam eles em parceria entre Igrejas ou apoiando, com o recurso de todos, determinadas iniciativas. O ecumenismo social tem sido um marco singular do diálogo e ação das Igrejas.
d)     Ecumenismo espiritual. E conhecida à expressão “ecumenismo se faz de joelhos”. Esta dimensão do ecumenismo tem contribuído ao encontro fraterno e de oração entre as Igrejas. Neste sentido a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que hoje começamos, tem um destaque especial.

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
O período tradicional, no hemisfério norte para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos vai de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908 pelo anglicano Paul Watson porque cobriam os dias entre as festas de São Pedro e São Paulo, tendo, portanto, um valor simbólico. No hemisfério sul, já que janeiro é tempo de férias, as Igrejas frequentemente celebram entre o Domingo da Ascensão (hoje) e o Domingo de Pentecostes (de acordo com o que foi sugerido pelo movimento Fé e Ordem em 1926), que é também uma data simbólica para a unidade da Igreja.
Neste ano, o Movimento de Estudantes Cristãos da Índia foi convidado a preparar o material para a SOUC. No contexto de preparação ficou decidido que, num contexto de grande injustiça em relação aos dalits (párias) na Índia e na Igreja, a busca pela unidade visível não pode estar dissociada ao desmantelamento do sistema de castas e ao apelo às contribuições para a unidade dos mais pobres entre os pobres. Os dalits (párias), no contexto indiano, são as comunidades consideradas “sem casta”. São as pessoas mais afetadas pelo sistema de castas, que é uma forma rígida de estratificação social baseada em noções de pureza e impureza rituais; quase 80% dos cristãos indianos têm origem nessas comunidades.
Com base nisto entendemos que o texto base deste ano seja Miquéias 6, 6-8. O forte apelo à justiça e à paz, de Miquéias, está concentrado nos capítulos 6,1 a 7,7, e o tema deste ano faz parte desse conjunto. Ele coloca a justiça e a paz dentro da história do relacionamento entre Deus e a humanidade, mas insiste que essa história necessita e exige uma forte referência ética.

Que nos diz esta palavra para a nossa Comunidade Bom Pastor?

            Considero que temos três grandes eixos para nossa vivência pessoal da fé a partir destes elementos mencionados.
1)      Valorizarmos e nos comprometermos com o diálogo ecumênico, elemento identitário de nossa tradição cristã episcopal-anglicana. Reconhecendo as dificuldades, os conflitos, mais apostando a que podemos construir relações fraternas com irmãos de diferentes tradições cristãs sem a soberba de considerarmos que o outro esteja errado.
2)      Respeito a todo outro em sua identidade eclesial. Sobretudo pelo fato de que a sonhada unidade e comunhão só poderão acontecer no reconhecimento e aceitação do outro como outro e assim vivermos a diversidade da única Igreja de Cristo.
3)      Nosso compromisso com a vivência concreta com o ecumenismo seja ela no modelo que for. Alguns poderão colaborar em uma dimensão mais que em outra. Concretamente, em específico sobre o ecumenismo espiritual, procurar participar e celebrar a fé comum com outros irmãos cristãos nesta semana que hoje começamos. Sejamos sinal de diálogo!

Que no momento de partilharmos da Eucaristia oremos especialmente para que um dia esta mesa seja a mesa de todos os cristãos, sem exclusões!


Material de referencia no link.