Por Rev. Ariel Montero
Primeira aproximação.
Ainda
há sentido no compromisso com o ecumenismo? Vivemos num contexto religioso
complexo, marcado fortemente pela autoafirmação de determinadas vertentes
religiosas que acabam se tornando fundamentalistas.
Por outro lado somos membros de uma
tradição eclesial que se autocompreende como ecumênica. Ecumênica no sentido
mais originário do termo: comprometida com a construção da “terra habitada”
onde todos os cristãos possam viver e experimentar o sonho de Jesus Cristo de que todos sejam um (cf. Jo 17).
Finalmente, entendo ecumenismo no
sentido estrito: diálogo entre Igrejas cristãs somente. Considero um valor
mantermos a expressão diálogo inter-religioso para as diferentes aproximações
entre diversas matrizes religiosas. Este último conceito, bem sei, está em
discussão.
Modelos de ecumenismo:
Costumeiramente
se fala de quatro modelos de ecumenismo:
a) Ecumenismo doutrinal. Nesse sentido,
o diálogo e reflexão das Igrejas, particularmente o diálogo bilateral, têm construído
documentos magníficos sobre diversos aspectos teológicos. Um exemplo no link.
b) Ecumenismo institucional. Desde final do
século XVIII e começo do século IXX diferentes denominações fomentam ações
missionárias entre as Igrejas. Em 1908, anglicanos promoveram oito dias de
oração pela unidade dos cristãos entre as festas litúrgicas da Cátedra de São Pedro e a Conversão de São Paulo. Em 1910 acontece
a Conferência de Edimburgo (Escócia), considerado o grande marco do Ecumenismo
mundial. O Conselho Mundial de Igrejas (WCC) foi fundado em 1948; a IEAB é
membro pleno desta organização. Aqui no Brasil, em 1982, foi fundado o Conselho
Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), onde também a IEAB é membro pleno.
c)
Ecumenismo social. Refere-se a diferentes ações
entre diversas Igrejas procurando a transformação de situações menos humanas as
mais humanas. Neste sentido, cabe destacar a Campanha da Fraternidade Ecumênica
que acontece de cinco em cinco anos promovida pelo CONIC. Esta iniciativa
impulsiona a construção do Fundo Ecumênico para projetos sociais, sejam eles em
parceria entre Igrejas ou apoiando, com o recurso de todos, determinadas
iniciativas. O ecumenismo social tem sido um marco singular do diálogo e ação
das Igrejas.
d)
Ecumenismo espiritual. E conhecida à
expressão “ecumenismo se faz de joelhos”. Esta dimensão do ecumenismo tem
contribuído ao encontro fraterno e de oração entre as Igrejas. Neste sentido a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos,
que hoje começamos, tem um destaque especial.
Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos.
O
período tradicional, no hemisfério norte para a Semana de Oração pela Unidade
dos Cristãos vai de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908
pelo anglicano Paul Watson porque cobriam os dias entre as festas de São Pedro
e São Paulo, tendo, portanto, um valor simbólico. No hemisfério sul, já que
janeiro é tempo de férias, as Igrejas frequentemente celebram entre o Domingo
da Ascensão (hoje) e o Domingo de Pentecostes (de acordo com o que foi sugerido
pelo movimento Fé e Ordem em 1926), que é também uma data simbólica para a
unidade da Igreja.
Neste
ano, o Movimento de Estudantes Cristãos da Índia foi convidado a preparar o
material para a SOUC. No contexto de preparação ficou decidido que, num
contexto de grande injustiça em relação aos dalits
(párias) na Índia e na Igreja, a busca pela unidade visível não pode estar
dissociada ao desmantelamento do sistema de castas e ao apelo às contribuições
para a unidade dos mais pobres entre os pobres. Os dalits (párias), no contexto indiano, são as comunidades consideradas
“sem casta”. São as pessoas mais afetadas pelo sistema de castas, que é uma
forma rígida de estratificação social baseada em noções de pureza e impureza
rituais; quase 80% dos cristãos indianos têm origem nessas comunidades.
Com
base nisto entendemos que o texto base deste ano seja Miquéias 6, 6-8. O forte
apelo à justiça e à paz, de Miquéias, está concentrado nos capítulos 6,1 a 7,7,
e o tema deste ano faz parte desse conjunto. Ele coloca a justiça e a paz
dentro da história do relacionamento entre Deus e a humanidade, mas insiste que
essa história necessita e exige uma forte referência ética.
Que nos diz esta palavra para a nossa Comunidade Bom
Pastor?
Considero que temos três grandes
eixos para nossa vivência pessoal da fé a partir destes elementos mencionados.
1)
Valorizarmos
e nos comprometermos com o diálogo ecumênico, elemento identitário de nossa
tradição cristã episcopal-anglicana. Reconhecendo as dificuldades, os
conflitos, mais apostando a que podemos construir relações fraternas com irmãos
de diferentes tradições cristãs sem a soberba de considerarmos que o outro esteja
errado.
2)
Respeito
a todo outro em sua identidade eclesial. Sobretudo pelo fato de que a sonhada
unidade e comunhão só poderão acontecer no reconhecimento e aceitação do outro
como outro e assim vivermos a diversidade da única Igreja de Cristo.
3)
Nosso
compromisso com a vivência concreta com o ecumenismo seja ela no modelo que for.
Alguns poderão colaborar em uma dimensão mais que em outra. Concretamente ,
em específico sobre o ecumenismo espiritual, procurar participar e celebrar a
fé comum com outros irmãos cristãos nesta semana que hoje começamos. Sejamos
sinal de diálogo!
Que no momento de partilharmos da Eucaristia oremos
especialmente para que um dia esta mesa seja a mesa de todos os cristãos, sem
exclusões!
Material de referencia no link.