Por Gabriela
Merayo
Marcos 15, 40-41:“Havia
também mulheres que olhavam, a distância, e entre elas, Maria de Mágdala,
Maria, mãe de Tiago, o Menor e de José, e Salomé, que o seguiam e serviam quando
ele estava na Galiléia, e várias outras, que tinham subido com ele para
Jerusalém.” (A Bíblia Tradução Ecumênica, Edições Loyola, São Paulo, Brasil,
1995, Reedição março de 2002).
Nesta breve perícope tentaremos
resgatar o verdadeiro discipulado em Marcos, a importância das mulheres neste
evangelho e o Jesus que ele o evangelista anuncia.
O discipulado em Marcos
Para Marcos o discípulo segue ao Mestre, se continua o caminho
que ele começou, se trilha os mesmos passos a exemplo dele. Serve-se ao Mestre na comunidade que o
representa, fazendo-se o último entre os últimos para estar em serviço de
todos, assim como o Mestre sendo Senhor, se fez servidor de todos. Diaconia
sintetiza todo o ministério de Jesus que liberta e eleva da escravidão. E neste
caminho de serviço aos mais necessitados se sobe
também com o Mestre a Jerusalém, é dizer, se está disposto a tomar a cruz e
segui-lo pelo caminho da rejeição, perseguição e sofrimento por causa do
evangelho, não abdicando do trabalho da instauração do Reino, pelas más
consequências que isto pode ocasionar para si mesmo. Este último verbo só
aparece, além desta passagem em Atos 13, 31 onde se refere aos que tinham
encontrado o Senhor ressuscitado e tornado suas testemunhas.[1]
O discipulado feminino
Agora, poderíamos perguntar por que no
evangelho de Marcos só um grupo de mulheres aparecem com estas qualidades de
discípulos e por que sempre que Marcos nomeia um grupo de mulheres Maria Madalena
aparece em primeiro lugar.
Primeiro deveríamos responder que os
apóstolos aparecem no Evangelho de Marcos como pessoas que não conseguem
entender nem a mensagem, nem a identidade de Jesus. Eles são os que brigam pelo
primeiro lugar, os que pedem sentar-se um à direita e outro à esquerda na
instauração do reino, os que pretendem torcer os planos de Deus se não
coincidem com os deles, os que negam Jesus, os que o abandonam no momento da
cruz. As mulheres no entanto, são apresentadas como o paradigma do verdadeiro
discipulado. Elas são as fieis, as que estão sempre perto do Mestre acolhendo sua
palavra, ajudando economicamente na missão de Jesus, servindo à comunidade como
outros cristos, não só às mesas, senão as que assumem o ministério de diaconia
do Mestre, anunciando as boas novas trazidas por ele, acompanhando-o até na dor,
na cruz, arriscando suas vidas e segurança.
Por outro lado, assim, como entre os
apóstolos se destaca Pedro pela sua torpeza de entendimento, seus movimentos
impulsivos, sua negação e sua desaparição no momento da paixão, entre as
mulheres a primeira em aparecer nos textos de Marcos sempre é a figura de Maria
de Magdala, uma mulher que, após a “cura” realizada por Jesus nela, não deixa
de segui-lo, servi-lo e até acompanha-lo no momento da morte. Será por isso
também, que é a escolhida para ver ao Senhor ressuscitado e anunciar a sua
ressurreição entre os apóstolos, como a primeira mulher apóstola. Maria Madalena
como vemos é a contra figura de Pedro. Maria é a discípula e a apóstola ideal
apresentada por Marcos.
O Cristo a quem seguimos
Frente aos Cristos que muitas religiões
apresentam hoje: exitistas, vitoriosos, e ricos, o evangelho de Marcos
apresenta um Deus pobre que passa pela cruz, um Jesus que acolhe a cruz como
consequência de uma vida engajada, de serviço e justiça aos mais pobres e
marginalizados. Toda a segunda parte do evangelho de Marcos mostra um Cristo
que anuncia tudo o que sofrerá por causa do Reino, em mãos dos poderes político
e sobre tudo religioso. O evangelista não está interessado em mostrar uma
ressurreição espetacular, nem em contar as aparições de Jesus como farão os
outros evangelistas, só se importa em mostrar um Deus que acolhe o que o ser
humano mais rejeita: a pobreza, os discriminados, os marginalizados, o
sofrimento do outro e de si próprio.
Perguntarmos-nos...
Com
estas observações feitas através da perícope podemos nos perguntar:
ü Como é meu discipulado? Sigo os passos e o exemplo do Mestre, sirvo a todos os membros da minha
comunidade sem esperar nada a cambio, estou disposto a perder ‘algo’ para que ganhe a presença de Cristo entre todos?
ü Que lugar se da às mulheres dentro da
comunidade? São para mim espaço de salvação como qualquer outro varão? Sou
consciente do meu machismo, do androcentrismo e patriarcalismo presente na
sociedade e na igreja e intento mudar isso com minha atitude diária?
ü Qual é a imagem do Cristo que eu sigo? Tem
algo a ver com a imagem que Marcos apresenta-me dele, ou segue as marcas
exitistas da sociedade de hoje?
Oremos
“O Espírito do Senhor Javé está sobre
mim, porque Javé me ungiu. Ele me enviou para dar a boa notícia aos pobres,
para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr
em liberdade os prisioneiros”. Is 61,1. Amém.
[1] FIORENZA, Elizabeth. As origens cristãs
a partir da mulher, uma nova hermenêutica. São Paulo: Edições Paulinas, 1992,
p. 366.